Luiz Roberto Turatti
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ANTES QUE VOLTEM...

ESCLARECIMENTOS

FUNDAMENTAL: Este artigo não substitui a obra “Antes que os Demônios Voltem”, onde os leitores realmente interessados deverão aprofundar. Edições Loyola.

1. CONCEITO: Há uma enorme confusão de nomes referentes à ideia generalizada de demônios. Com imensa insistência e até fanaticamente os propagandistas do conceito de demônio afirmam que pertence à Revelação na Bíblia. Na realidade, o conceito de muitos ou de um ser sobrenatural mau não forma parte nenhuma da Revelação Bíblica. São nomes e conceitos pagãos. E entre a mentalidade popular (e não tão popular...) fez-se uma enorme confusão. Com efeito:

Serpente do Paraíso: Não existiu. É sabido que o Paraíso Terrestre, Adão e Eva, a maçã etc., são simplesmente uma lenda para transmitir a doutrina religiosa do Pecado Original de toda a humanidade.

Asmodeu: O Livro de Tobías claramente não é um livro histórico, nem Asmodeu matou 7 maridos de Sara por ciúmes... Diríamos que era um livro de “utilidade pública” para tirar o medo da magia pagã com que voltaram do exílio os israelitas. Trata-se de Aesma Deva, o deus “Fúria”, o mais perigoso dos deuses na religião de Zaratustra, que os hebreus converteram no “mais perigoso dos demônios”.

Satanás: Quinze vezes aparece a palavra Satã ou Satanás no Antigo Testamento e mais seis vezes na forma verbal: satanizar. Significa inimizade, acusação, etc. Nunca significa um ser sobrenatural maligno. Assim no Livro de Jó o Satanás que inicialmente é um dos “Filhos de Deus” (= deuses) na corte celestial, depois é o próprio Deus: “os terrores de Deus assediam-me” (Jó 6,4); “Iahweh o deu, Iahweh o tirou, bendito seja o nome de Iahweh” (Jó 1, 20). Como o Satanás que obstaculiza na sua Divina Providencia ao profeta Balaão. No livro dos Reis significa os povos inimigos que Salomão vence. Em Habacuc significa a peste. No Eclesiástico, o instinto. Etc.

Diabo: Com essa palavra e com a forma verbal (“endiablar”) substitui-se às vezes a palavra Satã e o verbo satanizar na tradução ao grego chamada dos 70, em Alexandria, pouco antes de Cristo. Diabo procede de dia = através de, e bállo = expulsar. Todas as religiões pagãs falam de guerras de deuses. Para os judeus num livro de lendas com finalidade pedagógica, o livro de Enoque, precisamente também de pouco antes da Cristo, a guerra de deuses (absurda, pois só há um deus), foi transformada pelos 70 em guerra de anjos. E esta lenda entrou na mentalidade popular (repito: e não tão popular) dos cristãos. Onde está isso na Bíblia, como com tanta irreflexão se afirma? No Apocalipse quando São João fala da queda de Satanás..., embora possa estar usando metaforicamente essa lenda, não se refere a uma guerra de anjos antes da criação do mundo, refere-se ao futuro dos cristãos. Igual figura de linguagem quando Cristo diz que viu Satanás caindo do céu.

Lúcifer: Uma única vez aparece no Antigo Testamento, na tradução chamada Vulgata, a palavra Lúcifer. Isaías (14,12) compara a queda de Nabucodonosor à queda de Hélél ben Shahar no original hebraico. Trata-se da Estrela d’Alva, filha da Aurora, deuses na religião dos fenícios. Hoje o traduziríamos por Planeta Vênus. Caiu? E a mentalidade popular (e não tão popular) identificou Lúcifer com o Diabo e o constituiu Príncipe dos Anjos Rebeldes... Na realidade São João no Apocalipse chama Lúcifer, Estrela Brilhante da Manhã, a Cristo Ressuscitado. E durante séculos a Igreja, no solene canto pascal, o “Exultet”, também compara Cristo Ressuscitado com a Estrela Brilhante da Manhã, Lúcifer.

Belial: Ou Beliar, na forma grega. Aparece 27 vezes no Antigo Testamento e mais uma no Novo. Tem tudo para metaforicamente representar o mal, a inimizade, o pecado..., pois trata-se do deus cananeu do mundo subterrâneo. O Deuteronômio (13,14) expressamente explica essa metáfora quando chama beliais às pessoas inúteis, vagabundos, como origem do mal. E também São Paulo: “Não formeis parelha incoerente com os incrédulos. Que afinidade pode haver entre a justiça e a impiedade? Que comunhão, pode haver entre a luz e as trevas? Que acordo entre Cristo e Beliar? Que relação entre o fiel e o incrédulo?” (2Cor 6, 14-16).

Beelzebú (Mt 12, 24; Lc 11,15): O deus das moscas e da sujeira na religião de Zaratustra. “Baal”, etimologicamente, significa “o príncipe”, e assim foi convertido pelos israelitas em “o príncipe dos demônios” (Mt 12, 24 e Lc 11,15). Mas em hebraico “Zebul” significa casa, e assim “o senhor da sujeira” quando do deserto volta à casa e a encontra limpa..., no jogo de palavras do próprio Cristo.

O Príncipe deste mundo (Jo 12,31; 14,30; 16,11).

O Maligno (1Jo 2,14).

Potestades etc., etc. “pois o nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Principados, contra as Autoridades, contra os Dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do mal que povoam as regiões celestiais” (Ef 6,11s).

Clarissimamente se vê que toda essa demonologia israelita não pode ser mais do que metáfora na Bíblia, pois ela mesma, quando fala para outra mentalidade expressamente diz o que poderia parecer tudo o contrário: nossa luta é contra o sangue e contra a carne. Por exemplo: “Cada qual é tentado pela própria concupiscência que o arrasta e seduz” (Tg 1,14). Quem é o Príncipe deste mundo, o Maligno?: “Porque vencestes o Maligno, não ameis o mundo... porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, e o orgulho das riquezas não vem do Pai mas do mundo” (1Jo 2, 14-16).

2. ANJOS REVELDES: Cfr. no item anterior a palavra Diabo.

3. POSSESSÕES DEMONÍACAS: Deixando para outras oportunidades, ou para a obra “Antes que os Demônios Voltem”, a análise ou explicação de cada caso concreto da Bíblia (e na história), apresento aqui resumida a análise geral.

Nunca há na Bíblia “possessões” por Satã, pelo Diabo, por Lúcifer, por Belial, por Asmodeu etc. As “possessões” são unicamente do demônio ou termos equivalentes. Nunca o demônio tenta, quem tenta é o Diabo ou Satã.

A palavra demônio, ou dáimon (ou dáimones, no plural) em grego, ou algum equivalente em hebraico, não aparece nunca no original de todo o Antigo Testamento. Só na tradução dos 70 que substituem por demônios o que no original são sátiros que dançam com sereias nas ruínas de Babilônia (Is 13, 21), ou os ídolos adorados pelos pagãos (Sb 106, 36ss; Is 65, 3; etc).

Não há nenhuma possessão demoníaca em todo o Antigo Testamento, apesar de ser tão comprido e englobar toda a história da humanidade desde “Adão e Eva”.

Em contrapartida no Novo Testamento, tão poucos anos, 73 vezes se fala de dáimones (todo o Novo Testamento foi escrito em grego) e citam-se 19 possessões “demoníacas”: 11 casos gerais e 8 casos concretos.

Por que essa palmaria diferencia? Não se trata de doutrina sobrenatural. Trata-se de interpretação de fatos. Corresponde à Ciência. As religiões, os teólogos, os pastores exorcistas, a RCC..., como tais, nada têm a dizer. Respeitem a Bíblia...

Sabemos por que essa diferença: porque foi na época de Cristo, não antes, que os israelitas eram uma colônia romana: E os gregos e romanos atribuíam a um daimon, a um deus de segunda categoria as doenças internas, sempre: surdos, mudos, gagos, loucos, epilépticos etc., sempre são chamados “endemoninhados”. As doenças externas, nunca: leprosos, corcunda, mão seca, mortos (vê-se a rigidez), cegos (vê-se o íris branco, o pus...) etc. nunca são chamados “endemoninhados”.

E geralmente o Novo Testamento acrescenta o diagnóstico: endemoninhado gago, endemoninhado surdo, etc.

E geralmente (em 12 casos dos 19 concretos) a Bíblia emprega os termos iászai = sarar, e zerapeúein = curar. Ora, os que indevidamente tomam ao pé da letra o termo endemoninhado no conceito popular cristão, por que não tomam, como deveriam, ao pé da letra os termos curar e sarar?

E o máximo que se pode pedir ao escritor sagrado: A Bíblia, que não corrige nenhum dos erros científicos das diversas épocas em que foi escrita, este erro da possessão sim o corrige expressamente. Nunca são empregados os termos daimon ou dáimones, pessoais. Empregam-se sempre os termos daimónion e daimónia, em neutro, coisas.

4. AS TENTAÇÕES: Deixando também para outras oportunidades a análise das tentações concretas na Bíblia (e na história), apresento agora só um argumento geral.

Quem não estude cientificamente e não conheça a fundo o ambiente, o vocabulário, a mentalidade, o estilo oriental, exagerado, metafórico, das diversas épocas em que a Bíblia foi escrita, estará deturpando a Bíblia ao interpreta-la com o vocabulário moderno e a mentalidade ocidental.

Mais ainda, e isto é o principal, o mesmo Cristo às vezes deixou o estilo oriental, providencialmente, falando claro, claríssimo, inclusive à mentalidade e com o vocabulário que poderíamos chamar moderno: “O que sai do homem, é isso que o torna impuro. Com efeito, é de dentro do coração dos homens que saem as intenções malignas, prostituições, roubos, assassinatos, adultérios, ambições desmedidas, maldades, malícia, devassidão, inveja, difamação, arrogância, insensatez. Todas estas coisas más saem de dentro do homem, e são elas que o tornam impuro” (Mc 7, 20-23; Mt 15, 19).

Fica alguma tentação para que possamos desculparmo-nos com aquela lenda de “foi a serpente que me tentou”?

“Raça de víboras (surgiu a metáfora, típico daquele povo), como podeis falar coisas boas, se sois maus? Porque a boca fala daquilo de que o coração (esta metáfora também é de hoje) está cheio. O homem bom, do seu bom tesouro (metáfora) tira o bem, mas o homem mau, do seu mau tesouro tira o mal” (Mt 12, 34s).

“Só por causa da dureza dos vossos corações”, contra a vontade de Deus “desde o princípio da criação” é que a Lei teve que aceitar o divórcio (Mc 10, 2-9).

Só o homem é responsável de não se abrir à Boa Nova, por isso os fariseus e os herodianos causam indignação e tristeza em Cristo: “Repassando então sobre eles um olhar de indignação, e entristecido pela dureza do seu coração...” (Mc 3,5).

Etc. São muitos textos, inclusive do Antigo Testamento. Sem metáforas de demônios e conceitos semelhantes.

Pode ser conveniente inclusive aqui advertir que psicologicamente pode ser até muito perigoso isso de não conscientizarmo-nos do Irracional e Paixão (Fromm), do Id (Freud), das Sombras (Jung)... para superá-los. “O inimigo está dentro”, somos nós mesmos, não estamos em luta com algo externo...

5. CONCLUSÃO: De todo este artigo, necessariamente tocando brevemente só alguns pontos principais e gerais de tão complexo e amplo tema. Sirva-nos o que acabaram por reconhecer dois grandes teólogos:

a) Do lado Protestante escreve Henry Ansgar Kelly: “Os temas bíblicos referentes ao que se chamará depois demonologia, mostram grande variedade nos conceitos como nas fontes que os inspiraram (...). Tudo o que a Bíblia diz a este respeito mostra invariavelmente os traços de noções emprestadas de culturas estranhas ao judaísmo (à Revelação). Constata-se o mesmo fenômeno na história do cristianismo”.

b) Do lado católico escreve o prestigioso teólogo e grande parapsicólogo, o jesuíta Padre Karl Rahner: a demonologia “é uma interpretação da experiência natural (...). Tal doutrina (...) vai penetrando lentamente de fora na religião autenticamente revelada”.

● Estudo desenvolvido pelo revolucionário e mundialmente consagrado especialista Prof. Dr. Padre Óscar González-Quevedo Bruzón, S.J. (1930-2019), fundador, em 1970, do CLAP – Centro Latino-Americano de Parapsicologia ― Pesquisa, Ensino e Clínica ― o primeiro Centro Universitário, Especializado e Reconhecido em Parapsicologia no Brasil.

Fonte: ESCLARECIMENTOS (Seu título aqui).

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“Fora da VERDADE não há CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!” (Luiz Roberto Turatti).

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